14 sept 2011

Poeta velho de A. Centurião por L. Moncada


Poeta velho - Alberto Centurião

quero ser um poeta velho
velho que nem Cora Coralina
Walt Whitman Drummond Thiago de Mello
velho que não entrega os pontos
Manoel Bandeira João Cabral
velho feio careca enrugado encarquilhado
que chega a ser bonito de tão velho
já que não morri de tuberculose adolescente
nem de cirrose aos quarenta
agora quero ir além dos setenta
pra destilar aquela poesia envelhecida
decantada requintada
do cerne dos ossos reumáticos
de Mário Quintana
vagarosamente apurada depurada
com sabor de vinho velho
daqueles que a rolha esfarela
e a borra gruda no vidro da botelha
quero ser um poeta tão velho
que a gosma da vida vaze dos tumores
enquanto a poesia límpida pura saborosa madura
estale na língua para deleite do espírito
e a velha garrafa enfim seja reciclada

1 comentario:

Alberto Centurião Carvalho dijo...

Gracias, mi amiga, por esta emocionante interpretação. Grato por publicar em seu blog, grato pela linda ilustração. Grato, grato, grato. Beijo!