Palavras ditas, escritas, imaginadas, vistas, sentidas, pensadas. Palavras em dois idiomas, quase sempre. Vida hecha palabra. O viceversa.
31 ago 2014
Perguntas - Lota Moncada
Quem, a não ser eu
em busca do meu outro
poderia ser tão louco
a ponto de pular
sem rede, sem medo
- ou com ele - mas voar,
ao infinito, ao fundo
desse céu sumidiço?
Quem, a não ser você,
fugindo desse outro
responderia, e apenas,
com obstinado silêncio,
apagando sem delicadeza,
desdesenhando-se
afastando-se, oscilante
mas a passo ligeiro,
entre turvos adeuses?
Quem, a não ser você e eu,
esse fendido nós,
acreditaria que, sangrando
veias e artérias,
poderiam ser contidas
as insanas torrentes
dessa paixão desandada?
O que fazer com as mãos
derramando o vazio,
a desamparada boca,
os inundados olhos?
E o quê, com meu corpo
ansioso e disposto
a entregar-se inteiro,
quebrados os elos
de um passado ermo?
O que fazer agora
que passou o espanto?
Sepultar os restos,
abafar o pranto
que insistente sobe
e se desencadeia
como uma rotunda
catarata de pena.
Aquietar o peito,
levantar cabeça,
conjugar pretéritos,
continuar à espreita,
o acaso surpreende
à volta da esquina
e pequenas frestas
clareiam a vida.
É preciso andar desperto,
sem fazer perguntas,
e que o futuro deixe de ser
tão somente um tempo.
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1 comentario:
Sensacional! Bello poema, que aprecio subjetivamente! Muy bueno tu blog!
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