E uma aragem me despenteia e
arranca do meu miúdo silêncio.
Aprendi a ameigar, abrandar
até quase desaparecer.
No entanto, cresço, corro,
voo, chego, e fico.
Visto a roupa da coragem,
porque é preciso, só sendo aluado,
um tanto doido, desatinado,
para se olhar de frente, e se ver.
Para achar onde pousar a vertigem,
a adrenalina desbordada, tanta vida
maltrapilha, tanta ferida sangrada.
Noiva do vento descubro-me ar,
que me expira e te inspira,
que filtra a existência e te penetra,
me respira, me pulsa e te prenuncia,
no precioso ato de sorver a vida.
Sou a musa do olhar, a espada do encanto,
a atriz da fábula sem fala, a bruxa do conto.
Sou a que teme, mas chega. A alma que vem
e a que foge, aquela que se enrola no teu sopro,
te despe e, arrebatadamente, te toma e se dá.
Tão-somente porque ouso me olhar.
Nemesio Antúnez ( Chile 1918 - 1993) |
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